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Foto do escritorAline Caixeta Rodrigues

Flipoços - Parte 1

Atualizado: 31 de dez. de 2019


No segundo dia de Flipoços, tivemos o prazer de assistir duas mesas com convidados ilustres no Teatro da Urca.


O primeiro deles foi ninguém mais, ninguém menos do que Zeca Camargo, falando sobre literatura biográfica e contando um pouco de como foi a experiência de escrever a biografia de Elza Soares. Mineiro, conversador, Zeca falou descontraidamente por vários minutos, respondendo perguntas, contando casos dos bastidores e nos fazendo dar boas risadas, sempre com muito respeito e carinho pela biografada.


Na sequência, tivemos o prazer de receber a escritora Elisa Lucinda, que está lançando seu 18º livro, "O livro do avesso: o pensamento de Edite". Artista completa que é, Elisa cantou, leu trechos de sua obra, declamou poemas de performances passadas, nos fez rir, nos fez chorar, mas acima de tudo nos fez refletir. Sem meias palavras, a autora discorreu com muita assertividade sobre política, educação, racismo, religiosidade, mas também sobre seus processos criativos e a produção de "O livro do avesso".



No terceiro dia, começamos a programação assistindo à palestra "O que os clássicos nos dizem que não está escrito neles?", com os escritores Fernando Nuno e Silvana Salerno. Especialistas na arte de adaptar clássicos da literatura mundial para um formato acessível aos pequenos leitores, Fernando e Silvana apresentaram alguns de seus livros e discutiram a importância das adaptações como degraus para a formação literária e cultural das pessoas, atentando a questões de linguagem, enredo e conteúdo filosófico.



Às 18:30, assistimos à palestra "Tragédia em Mariana e Brumadinho", sobre literatura e jornalismo. Durante a mesa, a jornalista Cristina Serra falou sobre o seu livro "Tragédia em Mariana: a história do maior desastre ambiental do Brasil", mas também sobre o caso mais recente de Brumadinho, discutindo questões relativas à impunidade, ao poder e aos impactos ambientais, sociais e, principalmente, psicológicos causados às vítimas afetadas. "Eu me concentrei em focar o livro naquelas pessoas que não têm voz", disse a jornalista. "Eu disse pra mim mesma, esse caso não vai virar mais uma estatística. Essas pessoas precisam ter essa história documentada".


Por fim, para fechar a noite, tivemos uma mesa super especial com três mulheres incríveis e um líder indígena, denominada "Vidas entrelaçadas às dos Primeiros Habitantes: diálogo com os povos da floresta e sua importância na formação cultural brasileira". Quem abriu a mesa foi o convidado Ailton Krenak, com sua fala calma e profunda, que trouxe visibilidade aos povos invisíveis de nosso país. "Estamos familiarizados a ver nossos espelhos", disse o palestrante. "Mas existe essa literatura que convoca outros seres [...] e é tão verdade que existe um povo da floresta, quanto que existe um povo brasileiro". Ailton falou ainda sobre as tragédias apresentadas por Cristina Serra e lamentou profundamente que os rios, as montanhas e as florestas, "nossos parentes", tenham sido tão cruelmente devastados. Em acréscimo, pudemos ouvir as convidadas Betty Mindlin, Andreia Duarte e Rita Carelli, que nos contaram de suas experiências pessoais em diversas tribos e nos apresentaram seus livros para crianças, com adaptações de histórias indígenas.



No quarto dia de programação, começamos a tarde assistindo ao bate-papo “Você cruzaria países e mares sozinho?”, com a participação da editora Isabel Malzoni e do ilustrador Renato Moriconi, sobre o livro AMAL. A obra conta a trajetória de uma menina que vive na Síria, mas precisa deixar o país por causa da guerra. Sozinha, aos 12 anos, ela se vê obrigada a abandonar o avô e a vida que conhece, para partir em busca de sobrevivência. O livro tem o apoio do ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados) e possui uma versão digital disponibilizada gratuitamente para download. Clique aqui para saber mais. Sua compra pode ajudar o ACNUR.


Embora a autora - a jornalista Carolina Montenegro - não tenha podido estar presente no bate-papo, o momento foi muito emocionante, principalmente graças às artistas Lívia Camargo e Oula Al Saghir (atriz e cantora paquistanesa, refugiada há quatro anos no Brasil), que deram vida à obra, trazendo-a para o palco. Após o teatro, crianças de diversas escolas poços-caldenses puderam fazer perguntas à editora, ao ilustrador e, é claro, à Oula, que contou histórias da própria vida e nos deixou muito emocionados.



Na sequência, assistimos à mesa redonda “Voz aos movimentos do desejo: histórias da arte e da literatura feminista, da lesbiandade, passados e futuros afetivos”, com a mediação de Maiara Líbano. Na mesa, pudemos contar com a presença da escritora Cristina Judar, cujo livro “Oito do Sete” venceu o prêmio São Paulo em 2017; com a filósofa e produtora de eventos culturais Bia Salomão; a curadora da livraria Blooks, Nélida Capela; e ainda com a pesquisadora Flávia Belmont, que trabalha na área de política internacional. Com um time desses, nem precisamos dizer que a mesa foi sensacional, né?


Mais tarde, depois de uma pausa na cafeteria Sá Rosa, voltamos à Arena Cultural para assistir ao bate-papo com Fernando Scheller, jornalista internacional que retratou conflitos em países como o Afeganistão e o Paquistão; e autor do romance “O amor segundo Buenos Aires”. O escritor falou de seu processo criativo, dos cenários culturais brasileiro e argentino, de suas expectativas para a série televisiva que será baseada em seu livro, e de suas experiências enquanto jornalista em áreas de risco. Leia um trecho da obra, clicando aqui.



Finalmente, pra encerrar o dia, tivemos a honra de assistir a uma palestra ministrada pelo professor Mário Sérgio Cortella, sobre o seu novo livro (escrito em parceria com a Monja Coen): "Nem anjos nem demônios: a humana escolha entre virtudes e vícios". Com seu jeito característico, de linguagem descontraída e acessível, o professor discorreu sobre as escolhas que fazemos e a responsabilidade que devemos assumir por cada uma delas, para o bem ou para o mal. Teatro lotado!




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